segunda-feira, 4 de junho de 2012

EU SOU NADA!



Eu sou professora, e é como professora hoje que me sinto um nada. 


No dia em que você está diante de uma turma e pode ser humilhada por uma adolescente por ela saber de sua situação de inimputável e a da professora de maior de idade que responde por seus atos, você percebe que não é nada.

Quando um professor se dá conta que o artigo de desacato a servidor público em exercício da função é vago, este se dá conta que não é nada.

Quando um advogado sugere que você encaminhe a questão ao diretor para conversar com o responsável e o professor se lembra da fala da aluna -- "o que é? Vai ficar aí olhando pra minha cara. Não vou me desculpar, não tenho nada pra falar pra você. Me manda pra direção, manda... igual todo professor faz... aí ele vai me encher, vai chamar a minha mãe... e não vai dar nada -- e percebe que é mais que "não dar nada", já não é nada!

Quando você desabafa e se dá conta que não é nada, é só mais um professor sendo maltratado, só mais um professor sendo humilhado, só mais um professor no limite, só mais um professor reclamando... você se sente um nada. Você não, eu... eu sou professora, logo, eu sou nada...

"Poxa, você não é de nada... vai se alterar por causa de aluno que fala o que quer? Manda pra direção e pronto."

Se o meu salário -- que a aluna disse que é a única coisa que interessa pros professores -- é quase nada; se a minha aposentadoria vai ser a média do meu salário em um índice que o abaixa; a sociedade e os próprios alunos não enxergam o trabalho do professor como útil; então eu estou dedicando minha vida, meus estudos e meus ideais a nada??

Quer dizer que até hoje eu não fiz nada??
Quer dizer que eu não trabalho, eu só dou aula?? (essa é velha...)
Quer dizer que eu, jovem professora, que só me aposentaria daqui 30 anos, decreto a mim mesma a sentença de ouvir desaforo, ser humilhada, exercer minha função em ambientes sucateados e carentes de estrutura e recursos, receber salário abaixo da média universitária, por nada??
Quer dizer que eu dediquei minha juventude a uma carreira, mas isso não é nada... e que se eu mudasse de carreira agora não teria lugar no mercado porque já saí da idade universitária e seria um nada para o mercado??

Eu só queria ser professora, mais nada... mas, quer saber de uma, não foi nada: só um desabafo... e de professor, ainda por cima...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Quem sou eu? Eu vivo pra saber."


Agradável surpresa pode nos brindar quando nos deparamos com belos textos, daqueles que traduzem pensamentos que até então pareciam não caber em palavras, no perfil de Orkut dos amigos.
Segue texto do Pe. Fabio de Mello, extraído do perfil da minha querida Gra:

Quem sou eu? Eu vivo pra saber. Interessante descoberta que passa o tempo todo pela experiência de ser e estar no mundo. Eu sou e me descubro ainda mais no que faço. Faço e me descubro ainda mais no que sou. Partes que se complementam.

O interessante é que a matriz de tudo é o "ser". É nele que a vida brota como fonte original. O ser confuso, precário, esboço imperfeito de uma perfeição querida, desejada, amada.

Vez em quando, eu me vejo no que os outros dizem e acham sobre mim. Uma manchete de jornal, um comentário na internet, ou até mesmo um email que chega com o poder de confidenciar impressões. É interessante. Tudo é mecanismo de descoberta. Para afirmar o que sou, mas também para confirmar o que não sou.

Há coisas que leio sobre mim que iluminam ainda mais as minhas opções, sobretudo quando dizem o absolutamente contrário do que sei sobre mim mesmo. Reduções simplistas, frases apressadas que são próprias dos dias que vivemos.

O mundo e suas complexidades. As pessoas e suas necessidades de notícias, fatos novos, pessoas que se prestam a ocupar os espaços vazios, metáforas de almas que não buscam transcendências, mas que se aprisionam na imanência tortuosa do cotidiano. Tudo é vida a nos provocar reações.

Eu reajo. Fico feliz com o carinho que recebo, vozes ocultas que não publico, e faço das afrontas um ponto de recomeço. É neste equilíbrio que vou desvelando o que sou e o que ainda devo ser, pela força do aprimoramento.

Eu, visto pelo outro, nem sempre sou eu mesmo. Ou porque sou projetado melhor do que sou, ou porque projetado pior. Não quero nenhum dos dois. Eu sei quem eu sou. Os outros me imaginam. Inevitável destino de ser humano, de estabelecer vínculos, cruzar olhares, estender as mãos, encurtar distâncias.

Somos vítimas, mas também vitimamos. Não estamos fora dos preconceitos do mundo. Costumamos habitar a indesejada guarita de onde vigiamos a vida. Protegidos, lançamos nossos olhos curiosos sobre os que se aproximam, sobre os que se destacam, e instintivamente preparamos reações, opiniões. O desafio é não apontar as armas, mas permitir que a aproximação nos permita uma visão aprimorada. No aparente inimigo pode estar um amigo em potencial. Regra simples, mas aprendizado duro.

Mas ninguém nos prometeu que seria fácil. Quem quiser fazer diferença na história da humanidade terá que ser purificado neste processo. Sigamos juntos. Mesmo que não nos conheçamos. Sigamos, mas sem imaginar muito o que o outro é. A realidade ainda é base sólida do ser.


Padre Fabio de Melo

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sobre Felicidade, morangos & histórias de ônibus

"Bem vinda ao mundo dos adultos." -- eis a sentença que meu irmão insistia em repetir quando eu relatava minhas desilusões com o trabalho, as contas, o companheiro ou o que fosse...
... lá estava eu, jovem e incerta dos passos já caminhados e daqueles que o seguiriam...
...naquela época eu ia ao trabalho de ônibus. Por vezes, conseguia pegar um único ônibus para ir se saísse com bastante antecedência, se não, fazia conexões... ficava contente quando conseguia me sentar, tão contente ficava em não chegar já cansada ao trabalho que me instalava num canto da escada... lembro-me de uma ida em que quis aproveitar o tempo corrigindo provas:

meu canetão verde -- dei folga pro vermelho por causa de um papo que a cor se tornara traumatizante em correções -- bailava em frente a meu assento, sobre minha bolsa, meus livros e avaliações e eis que "RRRrrr" o ônibus freia e com ele fica meu braço esticado, segurando o canetão, aquele danado canetão com sua infalível tinta. A tinta era tão boa que risquei o relógio do camarada -- ele era realmente camarada, do tipo gente boa -- em pé ao meu lado. Passei a mão no visor do relógio para desfazer meu lapso e... é lógico que todos já entenderam que o risco não saiu! Me desculpei inúmeras vezes -- tendo o rubor de minhas bochechas salientes como aliado a comprovar minha sinceridade --, passei meu número pro cara me passar o orçamento da limpeza (e não era paquera, porque é comum a gente pensar isso quando alguém dá seu número no meio de uma história) e desde então não mais corrigi provas no ônibus... passei a ouvir histórias...

Acho que esses grandes escritores do cotidiano devem se inspirar em histórias de ônibus. Por vezes o conforto em ouvir aquelas histórias alheias ultrapassa o conforto do carro próprio, por mais que este seja com ar (condicionado) e direção (hidráulica). Se um dia eu decidir largar mão da teoria e ir à prática de meu estudo de Letras, resolver escrever um livro de contos ou crônicas, terei que voltar a pegar ônibus. Ouvidos atentos, não se trata de nenhum tipo de invasão, a pessoa está sentada a sua frente espalhando pelo ar aquelas palavrinhas encantadoras...
Adoro ouvir conversas de ônibus! Tem até comunidade no Orkut!!

Eram duas senhoras, empregadas domésticas ou secretárias do lar -- como queiram ou considerem mais politicamente correto, que agora até a função das pessoas pode ofender, já perceberam?! Elas se encontraram ao acaso naquele mesmo ônibus e sentaram-se em frente a mim: "E como que tá a vida?" "Ah, tá tudo muito bem! Minha menina já tá com a casinha dela construída pertinho da minha, ela e o marido já acabaram. Saíram de lá de casa mas veem a gente todo dia, que é ali junto. E o meu menino mais novo tá fazendo curso, já tá começando a trabalhar." "Ai, dá vazio, mas é bom vê os filho tomando rumo, né?!" "É, mas eu tô feliz mesmo não tendo eles o tempo todo. Agora eu e meu marido temo mais tempo, não tamo trabalhando tanto, aí tamo cuidando das nossas coisa. Sabe que agora a gente fez duma vez nosso jardim, tá com grama e tem um caminho de pedra. Ele foi colocando as pedra pra dá cada passo até em casa, do jeito que eu tinha na cabeça." "Ai, que maravilha! Deve tá muito bonito! Já tô imaginando." ... eu também já estava imaginando... "Esses dias a gente tá chegando do trabalho e tamo plantando uns moranguinho antes da janta. Coisa mais linda!" ... me peguei pensando que não deve haver coisa melhor que chegar em casa com disposição para plantar morangos ao lado de quem se ama. Naquele momento senti aquela brisinha no rosto que puxa os lábios em sorriso, aquela tal invejinha boa... queria eu também ter meu mesmo emprego de décadas, juntar meu salário mínimo ao de meu companheiro, ver meus filhos crescendo e prosperando, e plantar morangos em meu singelo jardim ao lado de meu companheiro de toda uma vida, o homem que fez o jardim que eu idealizara para enfeitar nosso lar... às vezes me recordo dessa história e toda a vida daquela mulher volta a ser a minha também em uma pequena fração de segundos... nesses momentos somos felizes, nós três: a mulher que planta morangos, a amiga de longa data que a ouve com gosto e eu -- a desconhecida que desembarcou do ônibus levando aquela história como lembrança de Felicidade.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

The city I live is the city I love

Quando adolescente eu adorava aquela música Under the bridge, do Red Hot...
"I drive on her streets 'cause she's my companion
I walk through her hills 'cause she knows who I am
She sees my good deeds and she kisses me windy
(...)
At least I have her love, the city she loves me
Lonely as I am, together we cry"

...aquela música que fala sobre um amor do eu-lírico, um grande amor... por sua cidade-natal! E, embora eu não tenha derramado meu sangue sobre a ponte de minha cidade, posso me valer de toda a atmosfera destes versos pra expressar o que sinto por minha cidade.

Como é bom nascer, crescer e continuar vivendo em uma cidade que posso chamar de minha!
Nascida em Curitiba, curitibana em minhas manias e sotaque... eis quem sou.Não à toa Rita Lee Jones afirma "quero ser normal em Curitiba".
O melhor em ser curitibano é conviver com semelhantes em orgulho da cidade que nos agrega. Dizer 'leitê quentê'. "prrrrrrruuuuuuuu" -- conviver com o excesso de pombos nas praças. Terminar frases com 'daí'. Ser comedido ao conhecer novas pessoas, leal em amizades de toda uma vida, espontâneo e transparente ao extremo com quem já é íntimo. Passear em parques. Consumir em shoppings. Ser amante da natureza e demonstrar tal zelo em uma preservação declaradamente 'caxias'. Não jogar lixo no chão. Curtir democraticamente as mais diversas gastronomias. Caçoar do sotaque de outro curitibano enquanto o assiste na tv. Usufruir de uma vida cultural rica em opções. Ter orgulho de ser curitibano.

O melhor de trabalhar na região metropolitana é saber que estou sempre próxima de minha querida Curitiba, me sentindo a bordo de um satélite que não circundaria um planeta -- sem luz própria --, mas uma estrela!
Como é bom poder afirmar que desde o início de minha carreira já trabalhei em escolas no residencial e aconchegante Água Verde, próximo ao florido Jardim Botânico, no glamouroso Champagnat, no político Centro Cívico e no pulsante Largo da Ordem.
Parto de Curitiba de manhã contente por saber que durante a noite estarei de volta no leito de minha aquecedora Curitiba.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

breve Presente

Os momentos de adversidade parecem ser aqueles em que mais amamos Deus, não é verdade?
Mentira! Cada momento de alegria é tão rico em contentamento que seriam poucas as palavras a expressar quão grande é nosso amor por nosso Criador. Demonstramos amor a Deus ao celebrarmos cada presente que ele nos dá, sorrindo diante de cada fruto merecido e chorando emocionadamente diante de cada semente agora conquistada e outrora necessitada, almejada. Damos a tais sementinhas o nome de Presente. E sabemos que o Presente veio de uma planta de raízes já fixadas em solo próximo, o Passado. Sabemos ainda que esta sementinha cujo nome é presente, pode germinar em próspera muda a ser chamada de Futuro.
Se estou eu aqui a expressar em palavras minha gratidão à Vontade Divina, seria então por que estou diante de um momento de dor, em que posso voltar-me a mim mesma e refletir-me em um meio de expressão, no meu caso, em palavras?
Sim, vivo breve e intenso momento de dor, mas também de alegria, de êxtase... sinto-me parte do milagre da Vida, este já tantas vezes relatado como sincronia de dor da mudança e êxtase do novo... é aqui que me encontro agora, neste Presente de uma providência maior que meu livre-arbítrio.
Cabe a mim não esquecer que como parte de um todo, minhas escolhas são únicas todavia não isoladas; cabe a mim seguir em passos mínimos porém singulares dentro desta jornada; cabe a mim procurar viver o Presente, respeitando a frondoza e exuberante copa de meu Passado, vislumbrando raízes seguras e profundas a meu Futuro.

Agradeço por tudo, Deus!
Já que não encontro melhores palavras, prosseguirei meu agradecimento vivendo... viva!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mensagem do I Ching

Gentil, este é o seu I Ching do dia Domingo 13 Dezembro:

Kun: A Opressão

"Ainda que neste momento haja algo que incomoda ou preocupa você, não deve abater-se. Aproveite a circunstância e tranforme a dificuldade em um estímulo para ir adiante. Tenha confiança no destino que muda sempre, transformando o mal em bem. A sorte é de quem possui coragem."

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Grávida


Eu tô grávida
Grávida de um beija-flor
Grávida de terra
De um liquidificador
E vou parir um terremoto
Uma bomba, uma cor
Uma locomotiva a vapor
Um corredor

É que eu tô, tô grávida
Esperando um avião
Cada vez mais grávida
Estou grávida de chão
E vou parir sobre a cidade
Quando a noite contrair
E quando o sol dilatar
Dar à luz

É que eu tô, tô grávida
De uma nota musical
De um automóvel
De uma árvore de Natal
E vou parir
Uma montanha
Um cordão umbilical
Um anticoncepcional
Um cartão postal

Eu tô grávida
Esperando um furacão
Um fio de cabelo
Uma bolha de sabão
E vou parir sobre a cidade
Quando a noite contrair
E quando o sol dilatar
Dar a luz

E quando o sol dilatar
Dar a luz