domingo, 10 de maio de 2009

O dia em que as lágrimas de meu avô brotaram em meus olhos

Após um breve e estafante feriado tudo o que se quer é voltar ao aconchego do lar, rever sua família, seus bichinhos de estimação...

Os cachorros vem bradando sua alegria ao me rever lá da rua! O labrador falsificado e a cadela híbrida -- parte lobo-guará, parte gambá (não tem nada a ver com cheiro!!). Bom reve-los também! Às vezes chega a ser difícil resistir ao anseio de retribuir suas lambidas amorosas, mas há ainda a razão: que tal um afago? Pelos na língua não rola!!
Vejo de longe as galinhas, o galo, o peru e os gansos descansando -- como se ganso descansasse com alguém por perto, esses chamados 'alarmes de colono' justificam o apelido de minuto a minuto.
Os periquitos e a calopsita (outra hora pesquiso a grafia correta e atualizo, ok?) -- segundo minha afilhada, é a Capiricita... é, combina mais com a família mesmo... -- já estão recolhidos.
As tartarugas já não cabem mais no aquário... nem a Tarta, nem a Ruga... repousam agora em um laguinho tranquilo no jardim, deixando mais espaço para os peixes e os "enfeites" de Bob Esponja e cogumelos sub-aquáticos (não sei se existe, mas aqui em casa a psicodelia já atingiu todos os ambientes).
A gata temperamental -- tudo bem... ela é fêmea, tá justificado -- e linda!
O gatinho manchado -- aquele que quando descansa no colo parece desafiar a Ciência: poderá um mamífero ser invertebrado??

Ainda falta um... e eis que se inicia minha participação neste triste episódio de nosso cotidiano familiar:
O sumiço do Barão e a angústia do destino incerto do gatinho prateado

Embora pareça que são tantos animais para uma só família, não estamos tratando de uma família qualquer... é a família que carrega em seu sangue e em suas lembranças a íntima relação com as plantas e os animais, o amor à música, a teimosia quebrada pela autoanálise, a emoção represada que transborda em lágrimas, o carinho pelos familiares que não cabe apenas em gestos ou palavras,a comunicação pelo olhar sincero, o prazer instigante em aprender mais e mais, estes e tantos outros princípios que minha memória afetiva guarda sob o nome de meu avô, Seu Carlito.
Nesta semana senti minha face umedecer-se pelas lágrimas que na infância me surpreendi ao ver no rosto de meu avô. Um homem tão forte, com opiniões políticas elaboradas, um chefe de família, o benzedor da região, o conselheiro das famílias amigas, pai de dez filhos, trabalhador rural, comerciante, líder em sua comunidade... marejava os olhos ao testemunhar um dentre seus inúmeros bichinhos de estimação despedir-se desta existência terrena.
Como pode aquele senhor que já vivera tanto, que já passara por tantos percalços ao lado da esposa, que se preocupara tanto com as idas e vindas dos filhos, que carregava como herança genética a fuga de um Leste Europeu abalado, ir às lágrimas por um gatinho??
Meu questionamento jamais me fizera desvalorizar a força de meu avô, Seu Carlito sempre foi absoluto em meu coração de neta. A surpresa era descobrir que meu ídolo também carregava emoções sutis, e que surpresa agradável era perceber que as nuances emocionais de meu avô o tornavam mais denso, mais completo, mais Seu Carlito.
Ah, vôzinho, quem me dera ter seu olhar terno a compartilhar as lágrimas enquanto lhe contaria as peripécias do gatinho prateado da família Queiroz... quem me dera ter o conforto de seu abraço ao ouvir o relato de que os pelos prateados do gato Barão anunciavam em pleno asfalto o desfecho do desaparecimento deste feriado, uma ida sem volta...

Vô Carlito, cuida bem do nosso Barãozinho. Bênção!

Um comentário:

Nathy Pöpper disse...

tem que atualizar eiin!